O Voar

28/06/2014 12:36

 

O VOAR

 

         O dia já havia se posto na fazenda, lá sempre jantávamos cedo, ainda mais naquele dia que a casa estava cheia de gente, com todos os quartos apinhados, e depois do jantar, meu pai, havia prometido uma brincadeira maior, iríamos voar.

         A notícia de tal evento veio antes da refeição, a molecada toda reunida se entreolhava, duvidando da brincadeira noturna. Dentro de nós havia sempre uma enorme dúvida: Voar, como?

         O jantar fora mais leve, meus familiares contaram a todos, afinal o vôo sempre levava a enjôo, e comida muito pesada não era de bom alvitre, pois podia emporcalhar o chão.

         Logo após o jantar veio à empregada com uma escada e um pedaço de cordão, e amarrou o lustre da sala que era baixo, mas o pé direito desta era muito alto, perto de seis metros de altura. Nós olhávamos aquilo admirado, aí vimos que iríamos voar mesmo, pois o lustre poderia atrapalhar ninguém tinha brevê.

         Meu pai então colocou duas almofadas do sofá de calço, e duas hastes de pau, bem fortes, segurando a plataforma. Nós teríamos que subir nelas, eles a levariam até o jardim e de lá de cima, pularíamos para o nosso primeiro vôo noturno. Uma loucura!

         Minha mãe se lembrou que em tal altura alguns teriam vertigem, e por tanto, todos voariam de olhos vendados.

         A aula de vôo não era para adultos, pois estes já sabiam só as crianças iriam participar. Fomos todos ao quarto da minha irmã, enquanto esperávamos pela ordem de chamada, e os adultos apinhavam na sala.

         Fui o primeiro, vendaram-me os olhos, subi na prancha, e minha mãe, à minha frente pediu para que eu colocasse as mãos nos ombros dela para não perder o equilíbrio.

         Encostei a ponta dos dedos nos ombros da minha mãe, e senti a taboa se mexer, enquanto gemiam os adultos da força que faziam para levantar-me, afinal eu era pesado. Fui sentindo subir aos poucos, apesar de estar com os pés na prancha, pois o ombro da minha mãe descia.

         Lá pelas tantas já não sentia mais a minha mãe, e a taboa balançava muito, enquanto gritavam: Pula! Pula! Pula!

         Aí eu pulei e caí no chão!

         A tabua não havia saído do lugar, só minha mãe é que se abaixara!

 

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Escritor Tito Laraya

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