O Protesto

28/05/2014 12:37
 
Os anos eram negros. O regime já tinha vencido a pseudo luta armada, com a qual um bocado de idealistas haviam tentado desestabilizá-lo. Mas isto era página virada: os seus líderes estavam mortos, seus ativistas presos, o país vivia em uma aparente calma. Os intelectuais e o Movimento Estudantil, dentro do inconformismo, eram a única oposição real ao regime. O partido da oposição jogava o jogo do poder, fazendo contestação confiável, na verdade dava legalidade ao regime que nada tinha de legítimo.
 
Terminada a luta contra os terroristas, os órgãos de repressão faziam o rescaldo, abafando, anulando, qualquer forma de manifestação organizada. Os líderes haviam desaparecido há muito, mas restavam os intelectuais e os artistas, que reclamavam a censura desmedida, e os estudantes, que procuravam uma bandeira para seguir, muitas vezes não sabendo qual escolher, só tendo uma certeza: não era a do governo, do regime que ali estava.
Foi neste clima que, graças ao coronel Erasmo, violento secretário de segurança pública, vários estudantes da PUC foram covardemente massacrados pelas forças de segurança, mecanismo de repressão, dentro do próprio campus da Universidade. Os motivos apresentados, todos políticos, foram muitos, alguns dizendo que fora por isto, outros por aquilo, mas qualquer motivo que fosse não justificava a invasão do campus, e a agressão aos alunos.
 
O assunto foi tema de debate por vários dias no meio universitário. Todos estavam inconformados com a ação do então exacerbado e violento secretário. O tempo foi passando, e então...
 
Um dia, em maio, resolveu-se inaugurar a estátua de Karl Marx na frente da Faculdade de Direito. A faculdade, naquele dia, amanheceu com um vulto coberto de lençol branco, à frente, e à sua volta, cercada por soldados, cavalos, cachorros, etc... Ao meio dia, debaixo de acalorados discursos, jamais citando o nome do homenageado, resolveu-se inaugurar a obra de arte.
 
Após o hino nacional, que era acompanhado pelos guardas batendo o ritmo com os cassetetes na mão, e pelo secretário este com um sorriso de satisfação e de ironia, foi-se inaugurar a estátua.
 
Ao baixar-se o lençol, viu-se que ali não estava o busto de Karl Marx, mas o boneco de um enorme gorila, com uma faixa com os dizeres “ERASMO KONG”. Aí o pau quebrou.
 
Os estudantes apanharam às gargalhadas, e o secretário dois dias depois, foi afastado por problemas de saúde.
 
 Como havia censura, o jornal esqueceu-se de publicar a matéria.
 

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